Mariana Lagoas e Henrique Laureano recebem, esta semana, no JMJ comBosco, Mónica Maia Henriques, professora de Educação Moral e Religiosa Católica, nos Salesianos de Lisboa e participante da JMJ Madrid de 2011.
Depois de ter estado em Roma, em 2000, Mónica voltou a participar na Jornada Mundial da Juventude que teve lugar em Madrid, Espanha, em 2011. E, mesmo com um filho de apenas cinco meses, partiu com um grupo de 300 jovens para este grande encontro com o Papa.
Para a professora, “Madrid foi muito especial”, porque o ambiente era “incrível”.
Dos vários dias em Madrid, Mónica recorda com especial carinho as palavras do Papa Bento XVI durante a vigília, que teve lugar no aeródromo de Cuatro Vientos, “a vossa força é maior do que a chuva”.
Mónica Maia Henriques, que, na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, integra a equipa de Acolhimento da WYD DON BOSCO 23, deixa um desafio a todos os jovens: “vivam tudo intensamente, pois esta é a experiência da vossa vida”.
Henrique – No episódio de hoje temos uma convidada muito especial. Chama-se Mónica Henriques.
Olá Mónica, bem vinda! Vou pedir que se apresente.
Mónica – Olá, sou a Mónica Maia Henriques, sou casada, mãe, mulher, professora, neste caso nos Salesianos de Lisboa, de Educação Moral e Religiosa Católica. É uma disciplina com um nome muito grande e é uma grande disciplina, efetivamente.
Henrique – Mónica, como é que surgiu esta oportunidade de participar na Jornada de Madrid, em 2011, e quais é que foram as motivações que a levaram a participar?
Mónica – Eu tinha participado numa jornada em 2000, em Roma, e foi uma experiência altamente gratificante e que, curiosamente, acaba por fazer cada vez mais sentido à medida que o tempo vai passando.
O que me moveu, foi a certeza de querer voltar a fazer a experiência de uma jornada, apesar de já não ser jovem. Quando fui a Madrid, 11 anos depois, muito daquilo que tinha passado em Roma começou a fazer sentido. Mas foi, neste enamoramento dos jovens, nesta paixão pelos jovens, que, em 2011, na Casa Salesiana, tive este desafio e o agarrei, mesmo grávida, com toda a vontade e toda a certeza que era aquilo que eu queria fazer.
Mariana – Como é que se preparou para participar num evento tão grande como a Jornada Mundial da Juventude?
Mónica – Fizemos vários encontros aqui no colégio com alguns dos alunos que iam participar. Efetivamente, termos tido preparações e termos feito uma caminhada para irmos, neste grupo absolutamente gigantesco, acaba por nos levar mais além.
Hoje, li um pouco da Fratelli tutti com uma turma, e há uma altura em que o Papa pede para os jovens se deixarem levar e eu acho que, por vezes, no âmbito das Jornadas, o deixar-se levar, é só o ir, sem grandes expectativas.
Eu não tinha pensado muito antes de ir para Roma, porque fui pela experiência, mas quando eu fui para Madrid, pensava que já sabia para o que ia, mas foi completamente diferente. Numa Jornada fui pela diocese e noutra, fui pelos Salesianos, e a organização com os salesianos anos é infinitamente superior. Pelo menos, a minha experiência foi infinitamente superior em termos de qualidade, inclusive de enriquecimento com o grupo.
Mesmo lá, em Madrid, fez toda a diferença. O dia MJS foi algo que nunca mais vou esquecer, foi altamente impactante. É nesse dia, do MJS, que os dois puzzles das Jornadas se começam a encaixar cada vez mais. Roma não foi uma experiência extraordinária no sentido de querer repetir, porque foi muito duro e, portanto, quando fui a Madrid, fui com muita vontade de acompanhar os jovens, de fazer novamente a experiência e ver no que ia dar. Foi, de facto, extraordinário, foi uma experiência que nunca mais irei esquecer. Madrid foi qualquer coisa de especial.
Henrique – Que impacto é que a Jornada de Madrid, juntando com as peças de 2000, tiveram na sua vida e na sua experiência de fé?
Mónica – Em termos de experiência de fé, e quando digo experiência de fé, não estou a falar só do estar na presença do Papa, que é o representante de Jesus Cristo, mas de tudo aquilo que nós sentimos, de sentir que fazemos parte, de ser cristão, é algo que mexe connosco e que entra no nosso ser. O começar a viver, no teu ADN, a fé como a primeira prioridade da tua vida, acredito que as jornadas colocam aqui um acento muito grande. Foi assim em 2000 e voltou a ser assim em 2011.
O que é que move alguém que está a amamentar, a ir a uma Jornada Mundial da Juventude e deixar uma criança com cinco meses? Acho que isto diz tudo.
Jesus é a pessoa da minha vida, é o referencial, e a Jornada vem precisamente reforçar isto. Reforçar que afinal não sou só eu, que somos milhões, com perspetivas diferentes e pessoas diferentes. A jornada é, provavelmente, a experiência mais Espírito Santo que nós possamos ter de Pentecostes, porque ninguém se entende, mas toda a gente entende, é o Pentecostes ali, a acontecer.
Mariana – Como era o ambiente naqueles dias? O que é que se via na cara das pessoas?
Mónica – As Jornadas Mundiais da Juventude são uma experiência dura. Para quem está na Jornada a pés juntos, percebe que as Jornadas são experiências duras, para serem vividas de espírito completamente aberto, e nem sempre tudo é como nós gostaríamos.
Em Madrid, havia todo um movimento contra a Jornada, contra o Papa e contra os custos avultados de jornadas. Lembro-me de ter saído uma notícia, em que, na fotografia que a acompanhava, estava um senhor a enfrentar uma jovem de forma altamente agressiva, e a jovem, estava com os olhos fechados e com as mãos juntas, como se estivesse em oração. Aquela reação, foi uma reação de paz, silêncio e de negação. Esta é a visão dura.
A parte boa é, efetivamente, o ambiente. É absolutamente incrível, e é muito difícil não nos deixarmos envolver. Mesmo que não conheçamos bem Jesus, vamos passar a perceber que, se calhar, o Jesus faz tanto sentido para tanta gente que devemos investigar um pouco mais. É este movimento que se passa dentro das Jornadas Mundiais da Juventude, é único.
Em Madrid, tudo funcionou de forma espetacular, porque foi tudo muito fluído, estava tudo muito bem preparado.
Henrique – Há alguma mensagem que ficou gravada, que viveu, que escutou, e que hoje repete?
Mónica – As palavras do Papa Bento XVI durante a tempestade quando disse “se vocês não saem, eu também não saio”.
É uma mensagem muito poderosa, porque só tínhamos duas hipóteses, esperar e confiar. Então o que nós vamos fazer na vida? Sossegar e confiar. A chuva não mata ninguém, confia.
Lemos, também, as palavras do evangelho, quando Jesus está a dormir na almofada e se bate uma tempestade sobre o mar. Eles estão todos aflitos e Jesus estava só a dormir. Confia, vocês nem medo vão ter se confiarem e se Jesus estiver na vossa vida.
Isto, do Papa estar connosco, do Papa ser Jesus, de confiarmos no Papa e confiarmos que aquilo vai tudo correr bem, é o que temos de levar para a nossa vida. Ou somos cristãos ou não somos cristãos, e se formos, a palavra confiança tem que estar presente, obrigatoriamente, na nossa vida.
Mariana – Quais é que são as maiores diferenças entre a Jornada de Lisboa e a de Madrid? E quais são as diferenças nos jovens de Lisboa e nos jovens de Madrid?
Mónica – Os jovens não são os mesmos, mas claramente são iguais.
Toda a gente tem que fazer as conquistas da sua geração e os jovens querem sempre a mesma coisa, liberdade, amor, felicidade, confiança, fé e esperança. Isto é o que os jovens querem, e não é de agora. Se olharmos para Madrid 2011 e para Lisboa 2023, obviamente, fazendo estas conquistas, é como se estivéssemos sempre a começar do zero, e esta particularidade é muito interessante para quem trabalha com os jovens todos os dias.
Os jovens não sonham os mesmos sonhos, mas na verdade, no limite, querem as mesmas coisas, que é serem felizes e terem confiança no presente e no futuro. É olharem e saberem que são amados, que amam e manterem esta positividade para com a vida.
Toda a gente quer conquistar, e os jovens querem é o mesmo. Correndo o risco de parecer generalista, o que estou a dizer é que ninguém vai descobrir agora a pólvora ou a roda, isso já aconteceu. Temos que descobrir outras coisas. Agora, as vossas ansiedades, as vossas crises, os vossos valores, são os mesmos.
Os sonhos são aqueles sonhos a que nós temos que responder, na medida que nos for possível, e que vão bater normalmente às coisas do bem, aos valores universais, e que são, também, estes valores universais muito incutidos pelo cristianismo.
Henrique – Mónica, com a JMJ Lisboa 2023 a aproximar-se, pergunto se está envolvida na preparação da mesma, e se sim, de que forma?
Mónica – Claro que estou envolvida.
Enquanto professora de Educação Moral e religiosa católica, nós fazemos uma grande motivação nas aulas para as Jornadas. Tivemos até apresentações das diferentes jornadas nas aulas.
Com os Salesianos, faço parte da equipa que está a preparar o acolhimento dos jovens salesianos de todo o mundo, que já vai com uma quantia bastante interessante e, portanto, vai ser um desafio. Já está a ser um desafio, mas nós estamos a trabalhar e bem, já há muitos meses.
Mariana – Por último, qual é a mensagem que gostaria de deixar aos jovens que vêm a esta Jornada, a Lisboa?
Mónica – Aos que estão a pensar vir, vou repetir aquilo que disse, vai só! Não pensem muito, ajam, deixem-se levar onde Deus quiser, porque efetivamente vale a pena arriscar.
Aos que já estão, vivam tudo intensamente. Não fiquem só com parte, queiram o todo, e o todo é comer, dormir, lavar, pensar, agir, movimentar, rezar todos juntos, e não o ir para casa tomar um banho e deitar na minha cama. Efetivamente, acredito que faz muita falta esta questão de nós nos libertarmos. Libertarmo-nos daquilo que achamos que nos faz falta. Nós precisamos de muita pouca coisa para viver e achamos que precisamos de imenso.
Na medida do possível, façam a experiência completa. Vocês vão abraçar muita gente que não fazem ideia quem são, nem nunca vão saber. Vão estar com pessoas com bandeiras que vocês nunca viram e não vão saber de onde é que são.
É a experiência da vossa vida, vão com tudo.