Mariana Lagoas e Henrique Laureano recebem esta semana, em mais um JMJ comBosco, Matilde Trocado, a diretora artística dos eventos centrais da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa 2023.
Formada em Comunicação e com um mestrado em Encenação, Matilde descobriu, muito cedo, a sua paixão pelo teatro e nunca mais parou.
Esta será a segunda vez que a encenadora cruza a sua paixão pelo teatro com a Jornada Mundial da Juventude, uma vez que apresentou, em 2011, em Madrid, o musical “Wojtyla”.
Da preparação para a JMJ Lisboa 2023, Matilde destaca a “multiculturalidade do elenco”, que chega de todo o mundo e que tudo fará para que “cada jovem se possa encontrar com Jesus”.
Em jeito de convite aos jovens, a encenadora recorda que a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa 2023 é “para todos”.
Henrique – No episódio de hoje temos uma convidada muito especial, a Matilde Trocado.
Olá Matilde, bem vinda!
Matilde – Olá, obrigada.
Mariana – Muito obrigada pela sua presença.
Começo por perguntar, em três palavras, quem é a Matilde Trocado?
Matilde – Três não chegam, então vou escolher uma mistura grande. Católica, mãe, mulher, casada, teatro, acho que é uma parte importante, e sou professora.
Henrique – Matilde, como é que foi o seu percurso profissional e académico? O que é que a levou a estar aqui, hoje, a trabalhar nos Salesianos?
Matilde – Fui aluna dos Salesianos do Estoril e já tinha sido das salesianas de Cascais, também.
Penso que o teatro foi algo que foi andando sempre perto, e mais ou menos com 14 anos comecei a fazer uns cursos de verão nos Estados Unidos. Ia um mês, em julho, e acabei por ficar com formação em teatro musical. Depois estudei comunicação e fui sempre fazendo teatro em paralelo. Entretanto fiz mestrado em encenação, mas, logo que casei, fui um ano em missão para Timor com o Duarte. Estivemos lá com uma ONG que se chama Leigos para o Desenvolvimento e acho que foi nesse ano que eu desbloqueei, que perdi alguns medos e percebi que era feliz com pouco, então pensei em tentar viver só de teatro. A partir daí foi isso que fiz e tem funcionado.
Mariana – Estando em ano de Jornada, pergunto-lhe como é que conseguiu ligar a Jornada Mundial da Juventude a essa paixão que é o teatro?
Matilde – Na minha vida, o teatro cruzou-se com a Jornada em 2011, em Madrid.
Estreei o Wojtyla em 2010 e calhava no ano seguinte ser a Jornada em Madrid, e alguém disse que seria boa ideia levar o teatro a Madrid, à Jornada, e depois desencadeou-se esse processo, e foi um processo muito engraçado.
Penso que todos recordamos a ida a Madrid como um momento particularmente especial. Houve muita adesão ao espetáculo, havia filas de jovens à porta. Acho que todos nós nos recordamos do que foi fazer aquele momento, naquele contexto, porque a sala vinha abaixo, praticamente, e foi algo que nenhum de nós esquece. Foi sim um episódio muito feliz.
Para esta Jornada, calhou ser convidada para fazer parte da organização e para ajudar naquilo que eu sei fazer. Estou muito contente e oxalá corra bem.
Henrique – Matilde, onde vai buscar a sua inspiração para ir produzindo os seus musicais? E no contexto da Jornada Mundial da Juventude e dos eventos centrais?
Matilde – Eu acredito que não há uma maneira certa de fazer teatro, não há uma maneira certa de criar o que quer que seja. A arte não tem uma forma, nem uma maneira certa de fazer.
Pessoalmente, vivo o teatro de uma forma muito espiritual, tenho a sensação de que no processo artístico, há coisas que nos são reveladas e eu conto com isso. Tenho, até, alguma lata no sentido de pedir isso, de haver esse diálogo e essa conversa com Jesus. Por isso, o processo criativo, para mim, acaba por ser, também, um processo espiritual e que é muito dialogado.
Trabalho nisto há muitos anos e não sei se tenho imensas certezas de como é que se faz e como é que se devem fazer certas coisas. Algumas, já fui descobrindo, mas eu vivo com esta sensação de que aquilo que faço, não o faço sozinha e, portanto, vivo dessa forma e vivo nessa relação.
Mariana – O facto de já ter apresentado um musical numa Jornada tão grande como a de Madrid, impõe-lhe mais responsabilidade, agora que vai ser em Lisboa?
Matilde – Espero que não.
Madrid vale por si, foi uma sorte muito grande, algo muito giro, eu estava grávida, à espera do meu segundo filho, e este ano, tem a graça especial de ser no nosso país e de sermos quem recebe. Aí sim, acho que há uma responsabilidade acrescida e acho que nós nem temos noção de que o nosso país vai ser invadido, no bom sentido, e do efeito que isso vai ter.
Há alguma resistência nas pessoas e até nos media, mas acho que a maioria das pessoas não tem a noção do que é uma Jornada, e que quando acontecer, vai ser irresistível, porque o ambiente que fica na cidade e aquilo que se vive, é muito difícil de descrever e de explicar. Portanto, eu acredito que as resistências que estamos agora a encontrar, se vão dissipar quando as coisas estiverem aqui à porta.
No entanto, sinto a responsabilidade no sentido de estar a tentar dar o meu melhor, mas com a confiança de quem entrega a quem tem entregar, ou seja, sabemos que isto não será só com as nossas forças e com a nossa inteligência, é importante que a ponhamos ao serviço e contar com o nosso Pai, que é dono disto tudo.
Henrique – O que é que podemos esperar da componente artística dos eventos centrais?
Matilde – Podemos esperar uma grande multiculturalidade, no sentido em que o elenco que vai estar nos eventos centrais, vem de todos os cantos do mundo. Vão estar em residência artística, e trabalhar em conjunto nas semanas que antecedem a jornada.
Depois, os eventos são muito diferentes. Temosas missas de abertura e de envio, em que cada uma tem a sua liturgia própria. Temos o acolhimento, que é um evento de festa e de alegria em que festejamos o encontro do Papa com os jovens, a primeira vez que o Papa está com os jovens, e eu acho que, depois de anos de pandemia, depois de tanta coisa, vimos todos com muita vontade de nos encontrarmos e de fazer festa. A Via Sacra é um evento a adensar um pouco mais, é ir a fundo e fazer este caminho com Jesus da Cruz, que é um caminho que eu acho que fala sobretudo de amor. A vigília, que eu acho que acaba por ser sempre aquele o evento mais marcante, que aqui vai ser junto ao rio, espero que seja, de facto, um momento de gratidão.
Posso dizer que estão a ser preparados com todo o empenho e com muita vontade de criar coisas belas que ajudem a rezar.
Mariana – Qual é a grande marca que quer deixar nesta Jornada?
Matilde – Jesus, ou seja, aquilo que é decisivo que aconteça, é que cada jovem se encontre com Jesus. Aquilo que nós procuramos, é que ao longo destes eventos e ao longo da semana, cada um possa fazer experiências de encontro com Jesus e possa ouvir o que os outros têm para dizer e assumir em concreto.
Henrique – Se o Papa Francisco lhe aparecesse à frente, o que lhe diria?
Matilde – Tenho esta sensação de que, apesar de estar a trabalhar na Jornada, não o vou conhecer, porque a minha vida acaba por ser sempre mais bastidor do que propriamente palco.
Não sei se teria só uma pergunta, mas a sensação que tenho é que gostava de estar diante dele, só para olhar para os olhos dele e para deixar que ele olhasse para os meus, e ia pedir para ele rezar por mim.
Mariana – Se pudesse falar com os jovens de todo o mundo, como é que os incentivaria a vir à Jornada, em Lisboa?
Matilde – Falava-lhes do pastel de nata.
Gosto de várias ideias que estão aqui subjacentes. Gosto da ideia de que o Papa convoca os jovens todos do mundo inteiro, não só os jovens católicos, os jovens todos, e eu acho isso bonito. Se calhar tentava passar esta ideia de que o convite para a jornada é para todos, é um encontro de todos os jovens do mundo. Se calhar dizia isso, para que as pessoas não pensem que não é para elas, porque é.