Mariana – Connosco, hoje, temos a Irmã Alzira. Muito boa tarde Irmã Alzira.
Ir. Alzira – Boa tarde!
Mariana – Muito obrigada por ter vindo. Começo por apresentá-la, se me permite.
A Irmã Alzira é filha de Maria Auxiliadora, natural de Vila do Conde e diretora do Externato Nossa Senhora do Rosário, em Cascais.
Henrique – Vamos conversar um pouco com a Irmã Alzira sobre a Jornada Mundial da Juventude de 1987.
A primeira pergunta é se, na sua opinião, é fácil reconhecer e acreditar no amor de Deus por nós, tal como nos impelia o tema da JMJ de 1987, que teve lugar em Buenos Aires, na Argentina.
Ir. Alzira – Esse é um tema muito bonito e fundamental para cada um de nós. Penso que, para reconhecer e acreditar no amor de Deus por nós, é preciso ter um coração disponível e muito aberto a descobrir esses sinais. Esse é o maior desafio, mas, os jovens, de uma maneira particular, são pessoas curiosas, com características de descobrir sobre si, sobre o mundo e sobre aquilo que está para lá daquilo que se conhece à primeira vista.
É esta dimensão da fé que está no mais profundo de nós mesmos que os jovens têm de uma maneira muito viva no seu coração. É uma maravilha, é com alegria e muita firmeza que, descobrindo Deus, a sua presença e o seu amor no mundo, nas pessoas ao nosso lado e em si próprios, que a felicidade está garantida.
Mariana – Sendo a JMJ um encontro dedicado aos jovens. O que acha que os jovens poderiam esperar daquela que foi a segunda Jornada Mundial da Juventude?
Ir. Alzira – Um grande entusiasmo, foi a primeira Jornada Mundial da Juventude a nível mundial!
Se pensarmos que a Jornada de 1986 se realizou em Roma, estar em Buenos Aires, do outro lado do oceano, foi algo inédito na história da Igreja.
Parece que Roma, que era quase o centro da Igreja, por uma identificação com a hierarquia da Igreja Católica, pensou que os jovens poderiam, acima de tudo, viver esta Jornada com muita surpresa e entusiasmo, com muita encanto, com muita ilusão, no sentido de descoberta daquilo que poderia ser este encontro com o Santo Padre, numa região onde toda a gente ia à aventura.
Henrique – O Papa perguntou aos jovens e, agora, pergunto-lhe a si, quem é Cristo para si?
Ir. Alzira – Cristo, é o Salvador, é o caminho, o caminho que eu quero seguir. É a verdade que está no mais profundo de cada pessoa, que a torna mais feliz e que lhe dá aquela sede de vida eterna. Cristo é a vida, a vida verdadeira.
A partir do momento em que eu tive a consciência de ter feito esta experiência de Jesus como a fonte da vida e da felicidade, acho que foi o início de me redescobrir a mim própria, de perceber que a vida em Deus é algo nos dá sede, mas que ao mesmo tempo não nos sacia, porque é uma vida sempre a jorrar.
Gosto muito desta mensagem, quando Jesus nos diz, no Evangelho de São João, “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, e essa é sempre uma afirmação que trago no coração.
Mariana – Sente que continuamos a ser capazes de construir e de motivar os jovens de hoje, a construir aquela que foi a civilização do amor referida pelo Papa João Paulo II, na altura?
Ir. Alzira – Estamos num paradigma muito diferente, separam-nos quase 40 anos daquele tempo. Na altura, pode-se dizer que era um mundo onde muitas cortinas de ferro e muitas barreiras, separavam aquilo que era a experiência ocidental, até mesmo o nível de religiosidade e de liberdade, mas havia uma grande sede de ver o mundo todo unido no amor e acho que isto, hoje, é algo que também é muito verdade.
A solidariedade que os jovens têm no seu coração e que querem, através do voluntariado e de outras experiências, tornar este amor de Jesus concreto na vida deles e dos outros, mostra que esta sede de uma civilização do amor, continua a ser uma exigência de todos e continua a ser uma necessidade para o mundo.
Henrique – Como é que podemos, hoje, ser estas testemunhas do amor de Deus que nos convidava o Papa também a ser?
Ir. Alzira – Olhando para o Papa João Paulo II, e pensando também naquilo que o Papa Francisco nos convida a viver, é-nos lançado este desafio de conhecer Jesus, de viver sempre de uma maneira mais bonita, mais verdadeira e sem medo de abrir o coração a Cristo.
Somos convidados a conhecer a Sua Palavra, a viver como comunhão, e ao mesmo tempo, expressar o seu amor em gestos de solidariedade e de fraternidade.
Penso que todos os jovens, adultos e as próprias crianças, conseguem viver esta dimensão do amor na proximidade aos outros e descobrir que Jesus está em mim e nos outros. Sabendo, também, que este Jesus que nos é dado é um tesouro a ser partilhado.
Mariana – Na sua opinião, o perfil dos jovens que participaram na Jornada de 1987 é o mesmo dos jovens de hoje?
Ir. Alzira – Penso que há muitas diferenças, os jovens de hoje são pessoas com uma capacidade de descobrir, conhecer e influenciar o mundo de uma maneira muito bonita e eficaz, porque vivem num mundo global, com possibilidades que há 40 anos atrás não existiam.
Dois anos depois de 1987, caía o Muro de Berlim, estamos a falar de um contexto que nós, hoje, não imaginamos, e eu acho que, os jovens daquela altura eram muito sedentos de liberdade, desejavam que esta paz de Jesus e o amor de Jesus chegasse ao coração de todos. E talvez aí, o papel e o perfil do Papa João Paulo II foi determinante para que isso acontecesse e para que Jesus Cristo chegasse, de facto, de uma maneira muito mais viva e para que muitos receios e medos caíssem no contexto em que as pessoas estavam a viver.
Henrique – Como é que esta Jornada Mundial da Juventude é uma forma de evangelização no mundo juvenil? Como é que este encontro mundial de jovens entre si e com o Papa pode ser, então, um testemunho daquilo que é Cristo?
Ir. Alzira – O que é que entusiasma mais os jovens do que um encontro onde toda a gente se possa ver e falar, perceber a alegria e a possibilidade de se descobrir num caminho de igreja imenso? Penso que esta dimensão de uma partilha da fé em caminho com outros jovens, é algo que só por si traz entusiasmo.
Claro que, nada supera o momento em que os jovens se encontram com o Santo Padre, que por si só já é uma experiência de fé. Naquele momento, é o Papa que está ali e que nos reúne a todos, ajudando a que haja esta explosão de alegria, porque o Santo Padre é, em si, o mensageiro de Jesus. É esta voz de Jesus aos jovens, que vem confirmar-nos na fé e vem também, de alguma forma, dedicar-nos caminhos de futuro, de empenho e de esperança.
A Jornada Mundial da Juventude são estes momentos de confirmação na fé, de alegria, de grande comunhão e também de construção. Tem as suas particularidades e é preciso algum sacrifício, mas tudo se supera porque o momento deixa, de facto, uma marca que transforma a vida das pessoas.
Mariana – Para terminar, gostávamos de lhe perguntar qual é a mensagem que quer deixar aos jovens que se estão, desde já, a preparar para a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa 2023.
Ir. Alzira – Gostava de dizer que temos muito a aprender com Nossa Senhora. Acho que este tema da Jornada, é, para nós, um convite a colocarmo-nos a caminho como ela, e com ela experimentar a alegria de que levar Jesus, só por si, já é uma felicidade imensa. Poder partilhar este levar Jesus com milhões de jovens do mundo inteiro, vai dar-nos uma experiência de fé como Igreja e como Movimento Juvenil Salesiano.