Mariana Lagoas e Henrique Laureano recebem Lurdes Martinho, participante da Jornada Mundial da Juventude de 1989, para mais um programa JMJ comBosco.
Educadora de profissão, catequista e membro do coro de Manique, Lurdes sempre esteve ligada ao Movimento Juvenil Salesiano (MJS) e, por isso, tal como refere, a proposta para participar na Jornada Mundial da Juventude de 1989, surgiu naturalmente. “Se não estivesse inserida no MJS não teria ido”, conclui.
A participação na JMJ de Santigo de Compostela foi, para Lurdes, algo inesquecível, primeiro porque João Paulo II era “muito carismático”, e depois porque todos falavam “línguas diferentes, mas a mesma linguagem”.
Lurdes Martinho termina referindo que a JMJ é um “carimbo” que deve estar no “passaporte de vida cristã”.
Henrique – Sejam muito bem-vindos. Hoje, temos connosco uma convidada muito especial. Chama-se Lurdes Martinho, é de Sintra, é catequista e membro do coro em Manique. É educadora de infância de profissão, é casada e tem três filhas.
Lurdes – Muito obrigada, bom dia.
Mariana – Agradecemos a sua presença, e começamos por lhe perguntar, o que é que fazia na altura da Jornada de 1989?
Lurdes – Estava a concorrer para o curso de educadora de infância e era provável que tivesse um emprego em part-time.
Henrique – O que é que a levou a participar nesta Jornada Mundial da Juventude, em 1989, em Santiago de Compostela?
Lurdes – Na altura, eu pertencia ao grupo de jovens de Manique, que estava inserido na Pastoral Salesiana e nós entrávamos em tudo. Fomos às primeiras páscoas jovens, às primeiras páscoas do silêncio, eu já era catequista nessa altura, tinha sido, também, escuteira e, portanto, ia a tudo. Por isso, na Jornada Mundial da Juventude, nós estávamos lá.
Essa jornada foi, até, na sequência do Acampamento Dom Bosco. Nós estávamos em Braga e fizemos essa deslocação a Santiago de Compostela todos juntos.
Mariana – Disse-nos, agora, que há vários acampamentos, vários movimentos relacionados com a Igreja. O que é que já sabia sobre as jornadas, sabia para o que ia?
Lurdes – Não, eu achei que não tinha havido Jornadas da Juventude antes da nossa. Mais tarde soube que sim, não sei se uma ou duas, mas o Papa João Paulo II, o nosso Papa de referência, o meu Papa da juventude e da adolescência, de toda a minha vida, ia a Santiago, portanto, nós íamos todos a Santiago.
Henrique – Sentia que, naquela altura, o Papa João Paulo II desafiava verdadeiramente os jovens a participar nesta jornada e a serem os jovens do novo milénio?
Lurdes – Senti ao máximo. Não cheguei a ir ao confronto, em Itália, portanto não estive com ele presencialmente, mas sei que ele falava para mim concretamente enquanto jovem e, portanto, senti muito o chamamento dele. Hoje, ainda tenho presente algumas das palavras que ele nos disse na altura.
Mariana – Sente que participar num encontro destes era fácil? Era fácil conseguir chegar à jornada, descobri-la e viver este momento de forma grandiosa?
Lurdes – Pessoalmente, se não estivesse inserida no MJS, na altura, eu acho que não teria ido, porque sozinha não teria ido, de todo.
Henrique – Naquela altura era mais fácil ou mais difícil do que hoje?
Lurdes – Não sei o que é que aconteceu à juventude de hoje, mas parece-me que há 30 anos havia muitos jovens, em muitos grupos de jovens e hoje, no mesmo sítio, não vejo essa adesão tão grande como se via.
O MJS tinha uma grandiosidade muito grande e uma participação muito grande também. Hoje, os jovens fazem o crisma já menos do que faziam na altura e depois param por ali. Há aqueles que continuam nos grupos de jovens, que estão de coração, mas muitos, ficam pelo caminho e eu acho que depois isto se vê na representatividade dos grupos.
Mariana – Pegando na sua experiência pessoal desta Jornada, o que é que mais a impressionou?
Lurdes – Tudo foi fantástico. Nós tivemos três dias no monte del gozo, acampados, a viver cada minuto. Não sei se foi por ter sido Espanha a preparar aquele encontro, que fez a diferença, porque eles são, de facto, muito aguerridos, mas foi muito intenso.
Passávamos o dia a ouvir testemunhos, a cantar, a dançar, a falarmos com meio mundo e meio mundo connosco, a comermos as nossas rações de combate e sentíamo-nos os maiores.
À noite, o Papa vinha falar connosco, e as palavras que ele dizia na altura faziam silêncio. Penso que hoje também acontece isso, por aquilo que se vê nos meios de comunicação social, quando aparece o Papa é outra coisa, e eu senti muito isso.
Nós fomos de autocarro, que ficou a quilómetros de distância, então fomos a pé o resto do percurso e, entretanto, vemos o Papa a passar no papamóvel, que na altura não era como hoje, era completamente aberto, e ele lá estava, em pé, a acenar-nos. Cada vez que ele nos falava, era como se ele estivesse mesmo ali ao pé de nós, a falar para nós. Foi fantástico.
Henrique – Como é que é sentir que não estamos sós e que há tantos jovens como nós que partilham deste amor de Deus?
Lurdes – Penso que isso foi, de facto, o especial.
Os vários cânticos que nós cantávamos na Igreja, nas missas, eram cantados na língua de cada um, com a melodia que nós conhecíamos, porque os cânticos eram os mesmos. Começámos a ver que todos falavam a mesma linguagem que nós, a linguagem de comunhão e de encontro com Deus, com o Papa e com todos nós, e depois tudo se tornou mais fácil, aproximando-nos muito.
Mariana – Eu penso que já tocou neste ponto, mas pergunto-lhe se se sentiu realmente parte desta força transformadora do novo milénio que o Papa João Paulo II referia?
Lurdes – Parte, eu sempre me considerei. Ele era uma pessoa muito especial, mesmo longe fisicamente, nós sentíamos muito a presença dele, era muito carismático e não é à toa que é o que é hoje.
Houve uma altura em que ele repetia muitas vezes, “Jovens, não deixeis as vossas vidas na garagem”, e, não sei se foi por causa disso ou não, mas eu não me consigo afastar desta missão de ser catequista, que é o que eu posso fazer mais pelos outros em comunidade. Recebi de graça, tenho que dar de graça e sinto-me impelida a isso. Portanto, sim, considero-me parte integrante deste novo milénio.
Henrique – Para um jovem não deixar a vida na garagem, pode passar por participar numa Jornada Mundial da Juventude?
Lurdes – Penso até, que é um carimbo que deve estar neste passaporte da vida cristã.
Marca um jovem de certeza, por isso, aconselho vivamente a ir.
Mariana – Após a Jornada, o que é que sente que mudou na sua vida?
Lurdes – É uma pergunta difícil, após a Jornada, continuei o meu percurso.
Nós vimos cheios de espírito e continuamos a falar. Na altura não havia as novas tecnologias de hoje, portanto, era por carta e, portanto, nos anos seguintes, ainda mantivemos algumas correspondências.
A nível do MJS, participámos noutros encontros, basicamente ibéricos e encontrámos gente que esteve connosco na Jornada, mas depois, é um pouco o dia a dia na nossa paróquia, na nossa vida, no nosso trabalho e na nossa casa.
Henrique – Para terminar, que mensagem gostaria de deixar aos jovens que estão neste momento a preparar-se para participar na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, em 2023?
Lurdes – Uma mensagem que não é minha, mas que me tocou. Vou repeti-la e acrescentar outra.
Recusai jovens, recusai deixar a vossa vida na garagem, participem sempre e a cem por cento, de corpo e alma.
Outra coisa que o Papa disse nessa Jornada, e que me mantém muito tranquila até hoje, é que, se quando rezam o terço pensarem em outras coisas, continuem a rezar, porque é melhor rezar e a pensar noutras coisas do que não rezar de todo. Boa viagem.
Mariana – Fiquemos com estas palavras e agradecemos a sua presença. Muito obrigada.