O convidado deste segundo programa JMJ ComBosco é o Padre Álvaro Lago, Delegado Nacional da Pastoral Juvenil. Numa conversa descontraída, o Pe. Álvaro Lago falou sobre a sua experiência de Igreja no contexto da Jornada Mundial da Juventude, bem como sobre a sua experiência de fé.
Para o nosso convidado “ser testemunho da esperança” é “estar no meio dos jovens”, viver totalmente “disponível” para eles. É nesta forma de viver que o Pe. Álvaro Lago encontra a esperança que é Jesus Cristo.
Henrique – Connosco temos hoje um convidado muito especial. É natural de Bicesse e estudou nos Salesianos de Manique. É salesiano, filho de Dom Bosco, Padre e está, atualmente, a viver em Setúbal e é também o Delegado Nacional da Pastoral Juvenil. Penso que já todos conhecem e já se aperceberam de que temos connosco, hoje, o Padre Álvaro Lago.
Pe. Álvaro – Olá a todos. Obrigado por este convite, por esta oportunidade de poder estar aqui convosco, a partilhar um pouco desta experiência de Igreja, que é este contexto das Jornadas Mundiais da Juventude. Parabéns pelo vosso trabalho.
Mariana – Muito obrigado Padre Álvaro. Começamos com uma pergunta que pode ser um pouco complicada. Qual é a razão da esperança que reside no seu íntimo e que o leva a acreditar?
Pe. Álvaro – A razão da esperança é sempre pensada em vista daquela que é a fé. A minha fé, que é a nossa fé e que se centra na pessoa de Jesus Cristo. Portanto, eu não tenho outra esperança, a esperança é Jesus Cristo.
No fundo, podemos dizer isto de muitas maneiras, mas é exatamente essa esperança que eu encontro naquilo que é a vida dos jovens. A realidade que os jovens são, o que vivem e aquilo que eu me disponho a encontrar e, de alguma forma, a colaborar com eles, é para que encontrem, também, essa esperança que é Jesus Cristo.
Henrique – Convida-nos o Papa João Paulo II a dar testemunho desta esperança. E como é que o podemos fazer?
Pe. Álvaro – De muitas maneiras. Podemos dar testemunho desta esperança de muitas maneiras, mas, como salesiano de Dom Bosco, sinto que, carismaticamente, também temos referências, também temos modelos e há maneiras próprias de ser esse sinal claro, próximo desta esperança a acontecer. E, portanto, como salesiano, esse testemunho é dado ao estar no meio dos jovens, preocupando-me em viver totalmente disponível para eles.
Há fases da vida em que podemos estar mais dedicados à missão que nos é entregue. Noutras fases da vida podemos estar entregues a mais setores, termos mais um papel de coordenação, de liderança, mas o objetivo é sempre este: estar, efetivamente, no meio dos jovens, com os jovens.
É importante fazermos caminho conjuntamente. Não há o adulto ou o consagrado que sabe mais e que faz as coisas para que os jovens desfrutem. Claro que há um testemunho de vida, claro que há uma presença, que tem também a sua importância. Mas o que importa, efetivamente, é este caminho partilhado. Isso é que importa. A esperança acontece e vive-se e descobre-se no caminho partilhado.
Mariana – Padre Álvaro, tal como disse, o acompanhamento dos jovens, e estar no meio dos jovens, é um dos pontos cruciais. Sente que o perfil dos jovens de hoje em dia é o mesmo daquele que era o perfil dos jovens das primeiras jornadas?
Pe. Álvaro – Ser jovem é uma experiência muito própria do ponto de vista humano, portanto, a esse nível, parece-me que os jovens serão sempre jovens, com as suas cargas culturais, religiosas. Mas eu creio que os jovens de hoje têm uma característica, que acaba por ser, também, uma característica de sempre, que é a generosidade. Há um fundo gigante do que é ser jovem, que tem a ver com essa capacidade de generosidade e outras características, mas eu hoje gostava, sobretudo, de vincar isso, esta generosidade de vida. E a fé passa muito por aí, a fé passa por esta entrega. Portanto, estes despertares e este crescer também na fé passa por esse descobrir-se em si próprio.
Hoje em dia, como noutros tempos, a Igreja tem esta preocupação um pouco mais à flor da pele, mas a verdade é que a dimensão da generosidade é, para mim, na vida do jovem, quase uma razão de ser para mudar o mundo. O Papa Francisco fala disto várias vezes.
Henrique – E os jovens têm esta generosidade para dar tempo a Deus e para cuidar da sua fé?
Pe. Álvaro – Têm! Eu acredito, piamente, que os jovens também têm generosidade para Deus, e é isso que é preciso potenciar. É preciso criar oportunidades, mas não na lógica de: “nós é que sabemos e vocês realizam”. Não! É o tal caminho conjunto, sempre.
A vida é partilhada, senão, não faz sentido.
Mariana – Pegando nessa necessidade que existe de acompanhar os jovens, e construir um caminho entre educadores e os jovens, o que acha que pode ser feito para levar e testemunhar a fé aos jovens de hoje em dia?
Pe. Álvaro – Esta questão do testemunho é fulcral, e carismaticamente, o educador precisa de ser autêntico, precisa de ser profundamente verdadeiro consigo próprio. Portanto, não dá para fingir relativamente àquilo que é a sua vida, ou se é ou se é. E, portanto, o jovem sabe, nesta proximidade, de que já falei, perceber a grandeza também do testemunho daquele que tem outra riqueza na sua vida, e que assenta nessa fé. Quase por osmose ou por osmose mesmo, com uma naturalidade imensa, o jovem percebe que a verdade da fé acaba por ter uma importância tremenda nessa vida e, portanto, só por si, só pela tal proximidade, essa importância é transmitida.
O outro aspeto tem que ver com o ajudar o jovem a perceber que a minha experiência é uma experiência que gera vida. Portanto, eu não estou contigo, ou não fazemos esta vida partilhada porque eu sou interesseiro, é porque efetivamente queremos caminhar juntos.
O que importa é a pessoa do educador, efetivamente, nesta vida partilhada e nesta consciência de si próprio, como bem para o jovem.
Henrique – O Papa João Paulo II disse na homilia da Santa Missa, dia 23 de março, na primeira Jornada Mundial da Juventude, que fazer caminho e estar numa Jornada Mundial da Juventude é por si só, sair e ir ao encontro de Deus. Como é que podemos, no quotidiano, então, cumprir esta missão de ir ao encontro de Deus?
Pe. Álvaro – A Palavra de Deus é muito clara! É ir ao encontro dos outros. Portanto, essa é a experiência do cristão, essa é a experiência do discípulo de Jesus. Viver para perceber quem é que precisa de mim, viver nesta disponibilidade e nesta radicalidade de estar ao serviço. Isto, hoje em dia, por vezes, até soa bem, mas, é um pouco duro e difícil, porque ser totalmente disponível para o outro, requer, para já, uma consciência de querer viver assim. Não é um trabalho, é uma fé que é preciso ir alimentando.
Só quando vamos ao encontro daquele que, efetivamente, sofre, daquele que está em circunstâncias de alguma dificuldade é que percebemos esse amor e essa presença de Deus.
Mariana – E pegando no facto de haver esta missão, de ir ao encontro de Deus e que todos seguimos e tentamos cumprir esta missão, de que forma é que as Jornadas são uma forma de evangelização no mundo juvenil?
Pe. Álvaro – As Jornadas são um momento de graça no seu todo. Portanto, para Portugal, e em especial para nós, que estamos na Região de Lisboa, receber a Jornada Mundial da Juventude é uma oportunidade maravilhosa enquanto Igreja. Este é uma oportunidade maravilhosa para os jovens. Estar do lado de cá, com um jovem envolvido nos processos, na construção de tantas coisas e nos cansaços, mas, sobretudo, na construção da comunidade, eu acho que é valiosíssimo.
Penso que neste momento não temos capacidade de alcançar a grandeza do que nos está a ser oferecido.
É importante perceber que esta Jornada Mundial da Juventude será uma grande autoestrada para podermos trilhar e fortalecer toda esta realidade que é sermos esta Igreja universal. E isto vai trazer um efeito a largo prazo para a Igreja em Portugal, para a Família Salesiana e para todos os movimentos e por aí fora.
Henrique – Inserido nas Jornadas Mundiais da Juventude, haverá um acontecimento muito especial para o MJS. O que é que podemos dizer aos jovens que nos ouvem, que estão a preparar a Jornada, mas também àqueles que vão usufruir delas?
Pe. Álvaro – O Movimento Juvenil Salesiano, como certamente outros movimentos de Igreja, tem uma grande preocupação de congregar nestes momentos extraordinários, E por isso, num dos dias, à tarde, realizar-se-á o Encontro Mundial do Movimento Juvenil Salesiano, que já tem nome, e que se chama WYD DOM BOSCO 23. É um encontro a nível mundial, do Movimento Juvenil Salesiano, que se realizará nos Salesianos do Estoril.
A festa tem início a seguir ao almoço e vai até à noite, com momentos variados, com muitas ofertas diversificadas, no contexto da presença salesiana do Estoril e terminará com uma grande vigília, que é o momento alto de toda a celebração. Durante toda a tarde haverá toda a componente festiva, lúdica, desportiva, dentro daquilo que estamos habituados a experienciar nas nossas presenças.
A boa noite da Madre Geral e do nosso querido Reitor-Mor também será a cereja no topo do bolo.
Este é um dia que, ao longo das diferentes edições das Jornadas Mundiais da Juventude, tem sido compreendido como um momento a aproveitar, mas sobretudo como um momento que cria uma dimensão mundial de movimento, que fortalece.
Este ano temos uma particularidade relativamente a este dia, talvez pelas circunstâncias pandémicas ou endémicas que todos conhecemos, queremos que este seja um dia que vá para além dos muros da Escola Salesiana do Estoril. Portanto, vai ser um dia em que vamos estar ligados com o mundo inteiro Salesiano. Vamos fazer deste dia um momento que não tem fronteiras, que não tem portas nem janelas, mas é o mundo inteiro a acontecer presencial e virtualmente.
Mariana – Padre Álvaro, tal como nos tem vindo a dizer, os jovens são o foco. Por isso, gostávamos de lhe pedir, para terminar, que deixasse uma mensagem para os jovens que nos ouvem.
Pe. Álvaro – A mensagem para os jovens… há sempre tantas coisas bonitas que vêm ao coração. Mas eu acho que a primeira é, sem dúvida nenhuma – e digo a primeira exatamente por querer dar destaque à ordem de importância -, para quem vive esta experiência de fé. Arrisquem! Busquem este Senhor Jesus, este Mestre, este modelo, este Deus de amor, este homem como nós, como ideal de vida. Colocar Jesus Cristo no centro não só do teu pensamento, mas da tua existência geral, total.
O que é que este homem, este Deus me diz a mim? Claro que depois, a partir daqui, podemos descobrir muitas coisas. Mas a questão é – é uma questão estratégica -: qual o lugar de Jesus Cristo na minha vida? Questiona-te! Põe-te a possibilidade.
Outro aspeto que eu acho que é fulcral e aqui vou-me valer um pouco da ideia e das palavras do Papa Francisco, que são naturalmente uma expressão do próprio Jesus… o que é que queres fazer da tua vida? E em vez de perguntares: o que é que eu devo ser, o que é que eu devo fazer? Pergunta-te a quem e para quem é que tu és? Isso é que é importante. Perguntarmo-nos para quem? E eu acho que mais do que se calhar estar a dizer olha, faz isto, ou faz aquilo, como sugestão aos jovens, eu acho que o que é mais importante é deixar interrogantes… a minha vida existe para quem? Que sentido é que eu tenho?
Eu tenho que existir para uma realidade que são os outros. E, portanto, como é que eu faço isso? Como é que eu traduzo a minha vida nesta doação de mim mesmo?
Acho que fico por aqui.