Henrique – Hoje, temos connosco o Padre Nuno Amador, para falarmos um bocadinho da importância do surgimento da JMJ. A primeira pergunta que lhe queremos fazer é: Qual é que foi a importância do nascimento da Jornada Mundial da Juventude e o que é que o seu surgimento representou para a Igreja?
Pe. Nuno – Eu acho que a Jornada Mundial da Juventude é uma grande intuição do Papa João Paulo II, de querer aproximar a Igreja da Juventude e a Juventude da Igreja. Há uma intuição para os jovens, e para o que eles hão de ser no futuro. Ou seja, quando o Papa institui a jornada, creio que há um grande desejo de que os jovens sejam semente de paz, de fraternidade, de amizade e de alegria.
A jornada, é, habitualmente, um grande encontro de juventude do mundo inteiro, onde as pessoas se podem conhecer e criar laços. Creio que o Papa tinha, também, esta ideia, de que no meio de todos aqueles jovens reunidos, havia ali uma semente que havia de dar fruto na vida daqueles que ali estão, mas para o mundo também.
Mariana – Em relação à evangelização, em que sentido é que a JMJ foi uma novidade? E que novidades é que esta também trouxe?
Pe. Nuno – É uma novidade no sentido de juntar, num só sítio, jovens do mundo inteiro. Creio que para quem participa na jornada, esse momento é muito marcante na fé, de uma fé que se torna pública, que se torna viva na vida das pessoas que participam.
Por vezes, podemos ter uma ideia, de que a igreja num todo, é o nosso grupo, a nossa Igreja, a nossa catequese. E aqui, há a sensação de que a Igreja é muito larga, há jovens do mundo inteiro que nos mostram que não estamos sozinhos. Isto é muito forte em termos de evangelização, porque nos dá um fogo interior de perceber que Jesus toca a vida de muita gente e em todos os lados do mundo.
Henrique – Como é que podemos definir a Jornada Mundial da Juventude? Como é que podemos definir uma pequena expressão ou até mesmo um pouco mais alargada? E será que é possível indicar um princípio, um meio e um fim? Ou será que não é possível distinguir estes três momentos ou sequer dizer se eles existem.
Pe. Nuno – A jornada, em si, acontece naquela semana em que os jovens, de cada parte do mundo, vêm para um país e estão a viver com o Santo Padre, aquele momento. Mas, a Jornada começa com toda a preparação que acontece e num caminho que se faz até lá, não só na preparação logística, mas toda a preparação espiritual e pastoral. Cada jornada é uma oportunidade para um caminho que se pode fazer com os jovens.
Mas, esta semana, não é só um ponto de chegada, é também um ponto de partida. Quem vive a jornada, quer continuar, na sua vida, a viver como viveu aquele encontro. No fundo, a Jornada Mundial da Juventude é uma grande peregrinação de jovens, de fé. É uma festa da juventude da Igreja que se une para se encontrar com Jesus Cristo e Jesus Cristo, também muito concretamente ali, na figura do Papa.
Mariana – Sendo a JMJ uma festa para a juventude, para quem é que estas Jornadas Mundiais da Juventude se destinam mesmo?
Pe. Nuno – Destinam-se, em primeiro lugar, aos jovens, mas não exclusivamente. As jornadas estão pensadas e são preparadas para, em primeiro lugar, serem um grande encontro da juventude mundial católica, mas todos podem participar. Atinge a juventude em primeiro lugar, mas, quer na sua preparação, quer também no evento em si, ela quer chegar a todas as pessoas.
É muito bonito, porque há muita gente que já não é jovem que, em conjunto com a juventude, está a ajudar a preparação deste encontro em Lisboa. Há muitos idosos, por exemplo, que ajudam, rezando. O contributo das pessoas pode ser mesmo esse, o de uma oração escondida e silenciosa, mas muito importante também. Diria, então, que em primeiro lugar, a JMJ é para os jovens, mas atinge todos e quer chegar a todos.
Henrique – Dizia agora que a JMJ se dirige aos jovens e também os atinge. E a pergunta que lanço é: que marcas é que podemos observar nos jovens que participaram em tantas e diversas edições da Jornada Mundial da Juventude?
Pe. Nuno – O fruto da Jornada Mundial da Juventude na vida de cada jovem e dos jovens em geral, só Deus é que sabe.
Acredito que a jornada é um momento tão marcante que, de facto, deixa frutos naqueles que participam. É claro, que estes frutos precisam de ser alimentados quando voltamos à nossa vida comum.
Pessoalmente, vivi momentos muito marcantes que alimentaram a minha fé e contribuíram para o meu caminho vocacional. Conheço muita gente, também, que na própria jornada descobriu, ou pelo menos teve, um primeiro pensamento sobre a sua vocação. Outros que redescobriram a oração, os sacramentos, pessoas que na jornada se confessaram e que já não se confessavam há muito tempo. Há uma vivência diferente, ou seja, há muitas marcas que são visíveis. Mas, há muitas marcas que são invisíveis e que têm a ver com os laços que se criam, com as amizades que se fazem, mas ao limite, só Deus sabe o fruto total da jornada.
Mariana – Participou em várias Jornadas Mundiais da Juventude. De uma forma mais pessoal, em quais é que já participou e que momentos especiais é que recorda?
Pe. Nuno – A primeira Jornada em que participei, foi em 2000, em Roma. Depois, participei na jornada de Madrid em 2011, estive no Rio de Janeiro, em 2013, e em Cracóvia, em 2016.
Pessoalmente, a jornada mais marcante e mais impactante, foi a primeira. Quando cheguei a Roma, foi a primeira vez que tive um banho de multidão e de juventude católica, gente de todo o mundo, todas as culturas, com formas muito diferentes de viver a fé. Essa experiência da universalidade da Igreja foi, para mim, o momento mais significativo.
Outra jornada que também me marcou bastante, foi a do Rio de Janeiro, porque tive a oportunidade de fazer a pré-jornada numa família de acolhimento, numa terra pequenina, onde só estavam peregrinos portugueses.
Mas, o que mais me marcou foi o momento da adoração Eucarística, pois, foi daqueles momentos em que está tudo calado em adoração, e naquele encontro, estavam quatro milhões de pessoas em silêncio. A jornada também é isso, não é só uma festa exterior, balofa, mas é também a adoração, a oração e a interioridade.
Henrique – Como é que os jovens de hoje podem, desde já, começar a participar na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa 2023.
Pe. Nuno – Em primeiro lugar, podem começar a rezar pela Jornada, e pela sua preparação que já está em marcha, depois, já temos nas paróquias e nos movimentos a Jornada também em curso.
É muito importante que cada jovem, na sua pertença, sinta que é chamado a participar na construção da Jornada, seja de forma mais local, ou até dispondo-se, por exemplo, para ser voluntário central. Acho, também, que era muito importante que em cada lugar se pudesse começar um caminho pastoral e espiritual.
Este encontro, pode ser uma oportunidade para renovar também, a pastoral juvenil, e pôr os jovens a correr por um objetivo que é a Jornada, mas que começa um processo que depois pode continuar a seguir à semana do evento. É preciso caminhar para que a jornada não seja apenas um evento, mas sim, um momento de um processo que agora começamos, mas que depois tem continuidade quando ela também acaba fisicamente.
Mariana – E num momento em que, para além desta preparação para a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, vivemos também um momento importante com a realização do Sínodo dos Bispos. Podemos esperar uma renovação da própria Igreja?
Pe. Nuno – A Igreja está sempre em renovação, é dinâmica, porque é feita de pessoas, e as pessoas mudam, também, ao longo dos tempos. Nós vivemos a partir de uma tradição, mas essa tradição também é um rio que corre e está vivo, não é uma coisa morta e, por isso, a Igreja também se renova. Com esta renovação, temos a esperança de que os jovens também se sintam mais integrados na vida da Igreja, se sintam mais protagonistas.
O Sínodo toca uma coisa que o Papa Francisco tem pedido muito aos jovens, que é de que não sejam apenas espectadores, que não sejam apenas os consumidores de alguma coisa que alguém faz para eles, mas que sejam os protagonistas, também, da vida da Igreja e das coisas que se fazem em termos da pastoral juvenil.
A Igreja precisa de ser protagonista da sua própria vida e os jovens têm um lugar muito especial nesse protagonismo também da renovação da Igreja. Como o Papa disse, não são só o futuro, são o hoje da Igreja, são o hoje que traz novidade, que traz sonho.
Henrique – Que mensagem quer deixar aos jovens que se preparam hoje, para participar na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa 2023?
Pe. Nuno – Que façam deste momento da vida da Igreja e desta oportunidade que a jornada é, também uma grande oportunidade para o encontro com Cristo e que encontrem aí a razão da sua vida e o lugar da sua existência. Creio que o Papa João Paulo II, quando instituiu a jornada, tinha muito isso em mente.
Gostava muito que a jornada pudesse ser, para cada jovem, esta descoberta de que, o encontro com Cristo, é alguma coisa que muda a vida e nos põe a caminhar com um sentido, que é o sentido da própria vida de Cristo.
Mariana – Padre Nuno, muito obrigada pelas suas palavras e pela sua presença.