JMJ comBosco 49 : A energia renovadora que Vítor Vidal trouxe da JMJ de 2002  

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Neste JMJ comBosco Mariana Lagoas e Henrique Laureano entrevistam Vítor Vidal, que participou na Jornada Mundial da Juventude de Toronto, em 2002.

Incentivado a participar neste encontro pelos membros do grupo de jovens a que pertencia na altura, Vítor recorda a sua participação como algo “inesquecível”.

Depois de momento um pouco delicado que o mundo enfrentou – com os ataques terroristas que tinham acontecido pouco mais de um ano antes – Vítor acredita que “o mundo precisava desta energia da JMJ”.

Estar ao lado de São João Paulo II foi o momento que mais “marcou” a sua participação e, tal como revela, o mais complicado era ter de “parar para descansar”, pois o amor que sentia na altura era tal, que não queria parar para nada, nem para dormir. Aos jovens que estão agora a preparar a sua participação na JMJ Lisboa 2023, Vítor deixa uma mensagem: “Há coisas que não podem ser explicadas, têm de ser vividas”. E conclui da seguinte forma, “espero que consigam viver esta experiência em toda a sua plenitude”.


Mariana – No episódio de hoje temos connosco um convidado especial, peço-lhe que se apresente.

Vítor – Olá, eu sou o Vítor Vidal, tenho 37 anos e sou software developer. Sou casado, tenho um filho, um cão e um gato e ando nesta aventura de Jornadas desde 2002.

Henrique – Pergunto-lhe como surgiu a possibilidade de participar na Jornada Mundial da Juventude em Toronto, em 2002.

Vítor – Em 2001, com 16 anos, juntei-me ao grupo de jovens da paróquia e havia, neste grupo, gente que tinha participado noutras Jornadas e que tinha trazido o bichinho. Desde então, tinha estado ali a fermentar e a crescer, e como todos os nossos assuntos e conversas passavam por uma história da jornada, era um pouco impossível não nos juntarmos a este sonho e não sonharmos, também, com a participação na Jornada.

Acabou por ser destes sonhos, que surgiu a oportunidade de irmos a Toronto.

Mariana – Como é que se preparou para esta JMJ?

Vítor – Apesar de ter participado noutras Jornadas, depois de Toronto, a preparação para esta foi, de certa forma, atípica. Isto porque acabou por ter um enquadramento sociopolítico diferente, por ter acontecido menos de um ano depois do atentado do 11 de Setembro, nos Estados Unidos. Nessa altura ainda estava a sociedade a tentar perceber como conviver com o que aconteceu e como evitar atentados semelhantes, ou seja, isto traduziu-se em variadíssimos desafios.

Por um lado, tínhamos os pais com receio de nos deixar viajar para o outro lado do Atlântico, tínhamos a própria Igreja com dúvidas sobre como proceder e mesmo a nível burocrático, tínhamos as agências de viagem que estavam tão baralhadas como nós.

Isto redundou em várias reuniões de urgência e foram muitos os momentos em que estivemos na eventualidade de não conseguir participar. O nosso coração andou ali aos saltos, ficou muito apertado em muitos momentos, mas no fim acabou por se alinhar.

Na minha opinião, precisamente também por causa desta desgraça que aconteceu, o mundo, mais do que nunca, precisava desta energia de uma Jornada Mundial da Juventude, e é curioso porque também era o tema da Jornada. Era a altura certa para os jovens se juntarem e serem o futuro, o sal da terra e a luz do mundo.

Henrique – O que distinguiu esta Jornada de todas as outras que já se tinham realizado?

Vítor – Foi a primeira Jornada e como se costuma dizer, não há amor como o primeiro.

Mariana – E o que é que mais o marcou nesta viagem?

Vítor – Acima de tudo, foi o facto de poder ter estado perto do São João Paulo II.

Na altura, ele era, para mim e para tantos outros, o nosso ídolo, que falava a nossa língua, que era ousado e dizia coisas como “Não tenhais medo de ser santos”. Isto era muito rebelde e como tal, nós andávamos sempre em cima do acontecimento para ouvir as suas palavras e as suas mensagens mais recentes.

O facto de poder ouvir essas palavras em primeira mão, dirigidas a mim e aos jovens que estavam a partilhar aquele momento com ele, tornou esta Jornada numa das mais queridas para mim.

Henrique – O que destaca da homilia de João Paulo II, em Toronto?

Vítor – Ao fim de 20 anos, tive de fazer batota e ir reler a homilia, mas é curioso porque depois deste tempo todo, ao relê-la, lembrei-me de uma das partes que me marcou bastante.

“O mundo que haveis de herdar tem desesperadamente necessidade de um sentido renovado de fraternidade e de solidariedade humana. O mundo tem necessidade de vós, precisa de vós como sal da terra e como luz do mundo.”

Recordo que, na altura, esta responsabilidade e consciência caiu em mim quase como uma bomba. Fez-me perceber que havia, de facto, um espaço no mundo e na sociedade para as minhas ações, contrariando aquilo que tantas vezes ouvia, que só os adultos é que tomavam decisões e podiam mudar coisas.

Percebi que enquanto houver esta rebeldia e indignação dos jovens, há sempre combustível para a mudança, e há de ser sempre a força motriz que faz o mundo evoluir.

Mariana – Sente que foi uma herança pesada, a que trouxeram daquela homilia, ao sentir a esperança que São João Paulo II estava a colocar nos jovens, e em particular, nos jovens que ali estavam a escutá-lo?

Vítor – Sim, de facto esta foi uma herança pesada, porque, a partir do momento em que temos consciência que temos impacto no mundo e na sociedade, deixamos de nos poder escudar naquela desculpa da nossa impotência face ao que está errado e quando perdemos este argumento, só nos resta mesmo agir.

Henrique – O que é que esta experiência mudou a sua forma de ser igreja? E o que é que mais o impressionou ?

Vítor – Recordo-me que o amor que senti na altura era quase palpável.

Lembro-me de andar de um lado para o outro, a tentar absorver tudo e de sentir o coração a rebentar com as emoções todas. Ainda hoje penso que o pior castigo que me davam na altura, era obrigar-me a parar e dormir para descansar. E isso, como é óbvio, mudou-me, e hoje sou a pessoa que sou graças a essa vivência.

Mariana – Como é que foi sentir que não estava só e que havia mais jovens que procuravam e sentiam este grande amor a Deus?

Vítor – Eu não sei se atualmente, os jovens continuam a ter os mesmos problemas que eu tinha em 2002, mas lembro-me que já na altura, ser cristão não era propriamente main stream para as pessoas da minha idade e isto fazia com que sentíssemos que só era possível ser verdadeiramente cristão, em certos ambientes.

De um momento para o outro, quando me vejo rodeado de milhares de jovens de todo o mundo, que acreditavam nas mesmas coisas e que eram verdadeiramente irmãos de fé, percebi que conseguia, entre gestos e palavras, se calhar, falar melhor com eles do que às vezes falava em português com as pessoas mais próximas. Foi aí que passei a dar verdadeiramente valor ao que é uma comunidade e ao que é viver nesta comunhão que Cristo nos mostrou.

Henrique – Qual é que era o principal objetivo de participar numa jornada Mundial da Juventude?

Vítor – Quando saí de Portugal, mesmo depois de me dizerem que ia ser uma experiência louca, continuava a pensar que ia ser só uma viagem gira, mas estava, de facto, muito enganado. No entanto, apesar de ter ido sem objetivos, vim de lá com objetivos bem definidos e defini que havia de voltar às jornadas e que havia de levar mais gente comigo, e graças a Deus, assim foi.

Mariana – Na oração final da homilia, o Papa João Paulo II dizia “Senhor Jesus Cristo, conservai estes jovens no vosso amor, fazei deles o novo povo das bem-aventuranças, a fim de que possam ser o sal da terra e a luz do mundo no início do terceiro milénio cristão.”

Como é que podem os jovens, ser sal da terra e luz do mundo, neste ainda início de milénio?

Vítor – Por um lado, eu acho que enquanto houver jovens que se indignem com o mundo, vamos sempre ser relembrados que existem coisas que podem ser mudadas e melhoradas, e isso é ótimo.

No entanto, a parte difícil é que não basta indignar-nos, nem apresentar problemas. Tal como como o Papa João Paulo II dizia, nós temos de agir. Não basta levantar as questões, é preciso também usar a criatividade dos jovens, que têm uma forma diferente de pensar, para encontrar soluções diferentes. No fundo, também era isso que dizia no hino da jornada, “que valor tem o sal sem sabor e para que serve a luz se não iluminar”?

Henrique – Voltou a participar noutra JMJ?

Vítor – Sim, tive a graça de conseguir participar em quase todas as jornadas depois de Toronto, e graças a Deus, para fechar este ciclo, vou poder receber a Jornada em Portugal.

Mariana – E passando agora para a JMJ de Lisboa 2023, está envolvido na sua preparação? De que forma?

Vítor – Sim, atualmente faço parte do Comité Organizador Paroquial de Canelas, em Vila Nova de Gaia.

Henrique – Por fim, pergunto que mensagem quer deixar aos jovens que estão, desde já, a preparar-se para participar na Jornada de Lisboa, em 2023?

Vítor – Se há alguém com dúvidas se deve ou não participar na Jornada, penso que vale a pena arriscar. Por muitas entrevistas que ouçam, por muitos testemunhos que ouçam, há coisas que não podem ser explicadas e que têm de ser vividas, e a jornada é uma dessas coisas.

No fundo, espero que consigam viver esta experiência em toda a sua plenitude.

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