JMJ comBosco 71 : O olhar de “esperança” do Pe. Filipe Diniz na juventude da Igreja  

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Esta semana, Mariana Lagoas e Henrique Laureano recebem, em mais um JMJ comBosco, o Pe. Filipe Diniz, que é, atualmente, o diretor do Departamento Nacional de Pastoral Juvenil.

No âmbito da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, o Pe. Filipe Diniz é o responsável pelos Dias nas Dioceses e, também, pela peregrinação dos Símbolos da JMJ pelas dioceses de Portugal. Para o Pe. Filipe, a Igreja olha com “esperança” para a juventude, isto porque, quem participa numa JMJ tem a graça de ver a “expressão da fé numa multidão”, sublinha o sacerdote.

Acreditando que a Jornada Mundial da Juventude está a “tocar” a todos, o responsável desafia os jovens que estão a pensar participar neste grande acontecimento a “incomodar” outros a participar. “Não tenham medo de convidar outros”, conclui o Pe. Filipe Diniz.


Henrique – No episódio de hoje, temos um convidado muito especial, o padre Filipe Diniz, que é o diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil.

Muito bem vindo, Padre Filipe, pedia agora que se apresentasse.

Pe. Filipe – Sou o Padre Filipe José Miranda Diniz, tenho 41 anos e sou natural da freguesia de Corticeiro de Cima, no concelho de Cantanhede, logo por sua vez, a nível eclesiástico, da Paróquia de Corticeiro de Cima.

Fiz toda a formação escolar como é hábito, e aos 18 anos entrei no seminário. Tive a oportunidade de sentir este discernimento vocacional e de sentir que a minha vida ia nessa perspetiva. Entrei no seminário no ano propedêutico, em Leiria, na altura era assim, nós tínhamos um ano propedêutico em que vivíamos no Seminário de Leiria e depois toda a formação filosófica e teológica era vivida no Seminário Maior de Coimbra, onde funcionava, também, o Instituto Superior de Estudos Teológicos. Nesse sentido, foi aí que fiz toda a minha formação. Em 2007, fui ordenado diácono, no dia de São João e foi uma data muito importante e significativa.

No dia 2 de Março de 2008, fui ordenado sacerdote e nessa altura estava num conjunto de paróquias, numa unidade de Ferreira do Zêzere. Depois, vim para Coimbra em formação de acompanhamento de jovens que ambicionavam entrar no seminário e no acompanhamento nas escolas pré-seminário, em 2010. Nesse mesmo ano, também, fiquei com a Pastoral Juvenil Diocesana, onde estou até agora. Já passei, também, como capelão do Hospital da Universidade de Coimbra, tive em Paróquias e em 2017, a Conferência Episcopal Portuguesa convidou-me para assumir esta coordenação da Pastoral Juvenil a nível nacional, onde estou até este momento.

Quando tivemos a grande novidade, em 2019, que a Jornada Mundial da Juventude ia acontecer no nosso país, fiquei com a responsabilidade de acompanhar aquilo que nós chamamos de dias nas dioceses. De 26 a 31 de julho, 17 dioceses do nosso país vão receber os dias nas dioceses. Fiquei, também, com aquilo que nós chamamos a coordenação de toda a peregrinação dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude.

É este o meu percurso, muito mais coisas há para dizer, mas penso que estas são as mais salientes.

Mariana – Ao nível da evangelização, qual considera ter sido a grande novidade da instituição da JMJ pelo Papa João Paulo II?

Pe. Filipe – Primeiro, recordar este grande Papa e a intuição que ele teve em olhar para a juventude com esperança. É preciso recordarmos o ano de 1983, ano da Redenção, em que o Papa convida os jovens a viver esse momento na Praça de São Pedro, esperando um número significativo, que depois, aparecem muitos mais. Imagino que na cabeça dele, quando olha para aquela grande expressão de jovens naquela praça, leva-o depois, no ano seguinte, a convidar os jovens.

É nesse mesmo contexto que ele, depois, institui aquilo a que nós chamamos a Jornada Mundial da Juventude. É necessário acompanhar os jovens, é preciso perceber aquilo que eles vivem, aquilo que são as suas esperanças e mostrar que este Cristo é a verdade, o caminho e a vida. Foi uma intuição fantástica, por isso, estamos aqui e percebemos que desde esta altura, até aos dias de hoje, o quanto tem sido esta expressão da Jornada Mundial da Juventude.

Henrique – Atualmente, que importância tem este grande acontecimento para a Igreja?

Pe. Filipe – A Igreja olha com esperança.

Estamos a falar da juventude, que é um momento crucial na construção da pessoa que somos, e o facto de termos esta vivência, é uma etapa muito importante. Dar sentido, dar relevo à juventude, é mostrar a uma Igreja jovem, dos jovens e para os jovens.

Mariana – Que marcas pode deixar, a vivência de uma Jornada, num jovem?

Pe. Filipe – Das três Jornadas Mundiais da Juventude que já vivi, aquilo que fica no jovem, é a expressão da fé numa multidão, é a noção de uma Igreja Universal, que se espelha ali. É ver jovens oriundos de vários pontos do mundo que vivem a sua fé, acreditam no mesmo Cristo que eu também acredito. Por sua vez, também desperta aqueles que andam mais perdidos.

A oportunidade de estar a viver uma experiência deste género, aí, não se olha a Igreja só como instituição, mas como uma comunidade que crê, que evangeliza, que ultrapassa, que desperta e que abre corações.

Henrique – O trabalho de preparação para a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 já é longo e envolve muita gente. De forma breve, quais acredita terem sido as maiores conquistas neste caminho de preparação?

Pe. Filipe – A Jornada mobiliza e está a tocar-nos, a todos, desde o primeiro momento que se começou a criar equipas e a construir este cenário. A novidade desperta e desafia, e é o facto de despertar e desafiar, que eu vejo esta Jornada mundial da Juventude como um grande desafio para o nosso país, para as suas estruturas.

Como diz tantas vezes o Papa Francisco, lançando este desafio aos jovens, pede que o agora de Deus seja um sinal de esperança. Desde os primeiros momentos em que se começou toda esta preparação, tem sido uma grande graça, tem sido uma graça fantástica. Estamos todos despertos porque sentimos que a graça da Jornada Mundial da Juventude, nos deixa construir e nos constrói. Penso que a Jornada Mundial da Juventude, mobiliza-nos e toca-nos no nosso mais íntimo.

Mariana – Sente que depois de dois anos de pandemia, os jovens são mais, ou menos dispostos a participar?

Pe. Filipe – Nós vamos falando dos efeitos e das represálias que a pandemia causou nas pessoas. O estar fechado, olhando para o nosso contexto muito português, não é uma coisa nossa, nós somos pessoas que andamos muito fora. Mas, eu olho para a Jornada como o abrir as portas. O papa João Paulo II falava muito de abrir as portas a Cristo, e, de facto, acredito que esta jornada, na minha perspetiva, é um abrir. É, também, um sair do sofá, mais na dimensão do Papa Francisco, que os jovens não fiquem sentados no sofá, não se fiquem no seu comodismo à espera.

Esta jornada é um sair do efeito do que a pandemia causou, de estarmos fechados no nosso comodismo, desinstalar e aproveitar este lado grandioso de encontro. Porque, é uma multidão saudável, uma multidão com uma perspetiva, com uma meta, Espero que seja um despertar e que não tenhamos medo.

Estamos, também, muito ansiosos para perceber o que é que o nosso Papa Francisco nos vai dizer, porque acredito que ele nos vai despertar e nos vai dar as suas palavras de esperança. Esperamos, também, muito da esperança dos jovens para este mundo e para a Igreja.

Henrique – Enquanto diretor Nacional da Pastoral Juvenil, que resultados espera para a Pastoral Juvenil após a Jornada Mundial da Juventude?

Pe. Filipe – Os frutos daquilo que vou fazendo e vou interpretando, naquilo que são os contextos diocesanos, dos movimentos, das congregações, como estão ansiosos em viver esta experiência estão focados, neste momento. Focados na experiência e em envolver, o mais que pudermos, os nossos jovens, chamá-los para virem fazer esta experiência. A seguir, vem uma oportunidade, uma vivência e o querer fazer algo. No entanto, penso que o primeiro momento que nós temos de ter é, parar um pouco, beber e saborear aquilo que foi a experiência da Jornada para, aí sim, depois, perceber o que vamos fazer depois daquilo que vivimos.

Acredito verdadeiramente que o que vem aí, vai continuar com a mesma criatividade que temos vindo a trabalhar até agora, porque nesta preparação da Jornada, de um modo ou de outro, tem havido muita criatividade, e muita vontade.

Acredito que depois deste refresco, de uma Jornada, é um querer continuar. A Jornada não pode ser vista pura e simplesmente como um evento, mas como um processo, de caminho, de encontro, e que vai permitir encontros. Desses encontros, vai permitir, também, um querer conhecer ainda mais. Esta descoberta da fé que os jovens tanto pretendem e que vão sentindo, na sua vida, vai continuar, e vai fazer com que chamem outros que não andam tão despertos, para saírem do sofá e continuarem a fazer esse caminho.

Os jovens têm que ser evangelizadores de outros jovens. Se nós queremos ser o Evangelho de Jesus Cristo, passa através da palavra, mas esta palavra, se é uma palavra jovem, vai contagiar. Deixemos que os jovens sejam a voz da igreja e para a Igreja, temos de dar mais protagonismo aos jovens, temos de os deixar falar mais, temos de os deixar sonhar. Como diz o Papa Francisco, que eles sejam sonhadores, poetas, não numa esfera fora do real, mas que, na realidade, eles sejam protagonistas desta missão, e acredito que a jornada vai dar ainda mais relevo ao protagonismo da juventude.

Mariana – Sabemos que é o responsável pela coordenação da peregrinação dos símbolos da JMJ, que tem movido muitos jovens e grandes encontros. Qual é que foi, para si, o momento mais marcante desta experiência?

Pe. Filipe – A peregrinação dos símbolos é um momento que, para mim, tem sido fantástico, porque tem passado por diversos contextos, e tem tocado muita gente. Tem passado por lares de idosos, por escolas, bombeiros, forças de segurança pública, câmaras municipais, e igrejas.

O quanto é belo e bonito, a criatividade das pessoas em acolher e enfeitar as igrejas, as ruas. Tem sido tão bonito a moldura humana que tem vindo com os símbolos. Tem havido muita criatividade da parte das comunidades paroquiais, é claro que temos de ter as estruturas diocesanas nos seus respetivos COD’s, que têm promovido e incentivado. Quero agradecer imenso a todos aqueles que são os coordenadores diocesanos, que têm feito um trabalho extraordinário a envolver os responsáveis locais para acolherem os símbolos e tem sido fantástico.

Os momentos são muitos, mas de facto, o momento mais marcante é a peregrinação. Tem espelhado muita esperança, tem mostrado muita criatividade, mas tem proporcionado ótimos momentos de oração.

Por último, algo que me tem tocado muito, é o modo como as pessoas tocam os símbolos e como os símbolos tanto nos tocam.

Nalguns contextos tem-se tido o cuidado de que as pessoas tenham algum tempo com os símbolos, para que toquem nos símbolos e, as pessoas saem a chorar. Isto não é só a organização, é mais do que isso, é um toque que toca o coração das pessoas e percebemos que isto, é Deus que nos está a tocar.

Os símbolos têm ido a locais, como por exemplo, estabelecimentos prisionais, e olhar para um estabelecimento prisional, pela carga que tem, e ver o quanto tem tocado os reclusos, faz o meu coração ficar pequenino. Uma das coisas que nós queremos, é a oportunidade de os símbolos passarem por estes contextos, porque Jesus tocou aquele que mais necessitava, aquele que estava marginalizado. Jesus vai ao encontro deste, por isso, os símbolos vão ao encontro e incomodam, têm que tocar.

Mariana – Como é que se convocam os jovens a participar na JMJ, que se vai realizar, em Lisboa?

Pe. Filipe – É preciso, primeiro tudo, acreditar, não ter medo. Hoje, vivemos muito de convites, de publicações, e o que não falta é informação. No entanto, tem de haver muita vontade de querer ir. Por isso, eu desperto os jovens, para que não tenham medo de participar neste grande momento, que é único. Os jovens têm que ir, aproveitar e usufruir destes dias fantásticos. Viver aquilo que a semana vai promover, viver os momentos, como os encontros Rise Up, em que os jovens vão ser os protagonistas e aproveitar os momentos de festa que vão estar espalhados pelas cidades. Depois, é aproveitar os momentos com o Papa, que vai ter muita gente, é verdade, mas vamos aguardar o que nos vai ter para dizer.

Mariana – Que mensagem gostaria de deixar aos jovens que se estão a preparar, para participar na JMJ Lisboa 2023?

Pe. Filipe – Sejam, não só divulgadores, mas incomodem o coração dos que ainda não se questionaram, e dos que já se questionaram, mas que ainda não sabem muito bem. Não façam como eu, que tive vários vezes convites para a Jornada, e pensava sempre que não valia a pena ir. Depois, em Madrid, com a responsabilidade da Pastoral Juvenil Diocesana, tive de preparar o encontro, e questionava-me porque é que eu não tinha vivido uma Jornada Mundial da Juventude para perceber como é que era, e acabei por ter de a viver à força.

Por isso, lanço o desafio aos jovens que já estão motivados, para que convidem o colega da escola, o da catequese, que não tenham medo. Convidem-nos, e se eles fizerem muitas perguntas, deixemos que a questão que perdura no coração daquele que muitas vezes ainda está a pensar, o convide para ir. A Jornada Mundial da Juventude vai dar respostas, por isso, eu lanço o desafio ao jovem que já está com vontade, que provoque aqueles que querem ter logo a resposta, dizendo “Dar-te-ei quando tu estiveres na Jornada comigo.”

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