JMJ comBosco 74: JMJ Cracóvia 2016, “experiência única”

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Inês Carvalho, antiga aluna dos Salesianos do Estoril e antiga catequista e animadora em Bicesse, é a convidada de mais um JMJ comBosco. Esta semana, Henrique Laureano e Mariana Lagoas recordam, com Inês Carvalho, a Jornada Mundial da Juventude de 2016, que teve lugar em Cracóvia, na Polónia.

Destacando a sua participação como uma “experiência muito gira e única”, Inês recorda que sempre sentiu falta de um momento para “fortalecer a fé”, e que a participação naquela Jornada Mundial da Juventude foi o “mote perfeito”.

Recordando a heterogeneidade do grupo, que apenas se encontrou pessoalmente “à porta do autocarro”, Inês sublinhou o facto de o grupo ter o mesmo “carisma” como o grande fator de “sucesso”.

Acreditando que a JMJ Lisboa 2023 deve ser um “ponto de viragem”, a entrevistada espera que ninguém fique “indiferente”. “Espero que este seja um momento para conhecer os outros”, concluiu.


Henrique – No episódio de hoje, temos uma convidada muito especial, a Inês Carvalho, que nos vai dar um testemunho sobre a JMJ de 2016, em Cracóvia.

Inês, vou pedir que te apresentes.

Inês – Olá, eu sou a Inês, sou antiga aluna dos salesianos do Estoril, com quem fui à Jornada. Sou advogada, na altura era aluna universitária, portanto já não estava nos Salesianos e tive a sorte de ter recebido este convite, que aceitei e foi uma experiência única.

Henrique – Inês, qual foi o motivo que te levou a querer participar numa JMJ, e em específico nesta, em Cracóvia?

Inês – Na altura estava em Bicesse, era animadora e catequista, e uma das coisas que sempre senti muita falta, era de momentos em que eu pudesse pensar mais na minha fé, para a fortalecer. Sentia falta de momentos de introspeção, mas que também não perdesse o lado jovial que, por vezes se perde nesse tipo de retiros espirituais, e que com os miúdos conseguimos ter. Então, imbuída pelo espírito incrível do bicentenário de Dom Bosco, que tinha sido no ano anterior, decidi que tinha de ir.

Mariana – Como é que te prepararaste para este evento?

Inês – Hoje olho para trás e vejo que a minha preparação não foi, de facto, incrível. No entanto, o Padre Juan dizia uma coisa muito engraçada, que era “não há coincidências, há Deuscidências”, e o nosso grupo era a personificação perfeita disso, porque éramos o grupo mais heterogéneo em que eu alguma vez me inseri. Nós fomos com antigos alunos e com pessoas que não estavam, sequer, nos salesianos. Mas havia uma coisa, que eu acho que é essencial para qualquer grupo, que era o facto de todos termos o mesmo carisma. Isso é a chave de ouro para tudo. Eu acredito que tu podes não conhecer o grupo, podes não estar com eles numa base diária ou até semanal, mas isso não significa que não haja coesão ou empatia.

Portanto, foi uma não preparação que acabou bem.

Henrique – Para esta Jornada, o tema escolhido foi “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia”. De que forma é que acreditas que este tema regeu a experiência vivida em Cracóvia, e de que forma é que teve impacto na tua vida, após a Jornada?

Inês – Eu fui a duas jornadas, à de Madrid e depois a Cracóvia, e senti que a chave da vivência de uma Jornada não é tanto a preparação espiritual, mas tem muito a ver com a idade. Tem muito a ver com a tua fase de vida, e eu sinto que vivi a Jornada de Cracóvia com outra intensidade. Em 2011, eu fui, também, com o Estoril e aí fizemos toda a preparação, no entanto, Cracóvia marcou-me muito mais veemente do que Madrid e acho que isso tem muito a ver com a idade.

Em relação ao tema, sim, foi um tema que claramente marcou a Jornada, e foi um tema que já marcava a minha vida e que continua a marcar. Como disse, eu era catequista e animadora em Bicesse, e foi um bom momento para me ligar à ficha e recarregar baterias. Foi muito bom.

Mariana – Em termos de fé, de que forma é que acreditas que a Jornada pode ter impactado a tua vida?

Inês – É um fogo, eu vinha a arder quando vim de ambas as Jornadas. Vivi momentos diferentes em cada uma delas, que me marcaram. Adorei a via Sacra, na Polónia, e adorei a noite de vigília, em Cracóvia, mas o encontro de jovens portugueses em Madrid foi qualquer coisa. Portanto, há momentos que marcam muito e acabamos por vir com vontade de fazer mais, de fazer melhor e que o mundo todo saiba o que é que tu vives e que partilhe, também, da tua fé. É mesmo incrível.

Henrique – O Vatican News publicou, em 2018, um artigo sobre a Jornada de 2016, onde o Papa Francisco afirma que as novas gerações são chamadas a deixarem um sinal do mundo, ensinando os adultos a conviverem com diversidade. Acreditas que com a vivência da JMJ, os jovens conseguem ter um maior impacto na vida das gerações mais velhas?

Inês – Penso que podemos ver a JMJ de duas maneiras. Como um acontecimento que, por si, é claramente um manifesto de fé, que pode dar alento a quem tem falta dele, a quem acha que nós somos uma geração desacreditada, e acho que pode ser um manifesto no sentido em que, para além de não sermos uma geração desacreditada, somos uma geração que não tem medo de acreditar. Hoje, as pessoas têm de ter opinião sobre tudo ou então não podem ter opinião sobre nada, e é muito difícil viver no equilíbrio, por isso acho que a JMJ, por si só, pode ser um bom ponto de partida para essa esperança.

Por outro lado, podes ver a JMJ como se tivesses um balde, e fosses ao poço, onde vais buscar água e distribuis. Com a JMJ é a mesma coisa, vais à Jornada, bebes tudo o que consegues, e depois espalhas, sendo tu, o manifesto.

Penso que sim, que a Jornada pode ser um alento para as gerações mais velhas, e acho que também deve ser um exemplo para as gerações mais novas. Não é por nada que as Jornadas são um movimento para todos, até para quem não é católico.

Penso que, por vezes, temos muito medo de viver esta liberdade, e é algo que me faz alguma confusão, porque temos de ser livres, temos de nos permitir sentir isso e a partir desse momento, o resto vai.

Mariana – Quais é que são os momentos que destacas desta Jornada?

Inês – Gostei muito da noite de vigília, gostei muito da missa de envio, lembro-me que foi nessa missa que o Papa disse a célebre frase “saiam do sofá”, que foi, claramente, uma frase que ficou. Lembro-me que, todas as manhãs, íamos a catequeses, e num dos dias, foi um bispo português que foi dar a homilia e ele disse uma frase que eu nunca mais esqueci, ele disse “Quem decide mal, vive mal. Quem decide bem, vive bem. Quem não decide, vegeta.” Esta frase, por incrível que pareça, até hoje, é um dos mantras da minha vida.

No entanto, acho que só senti mesmo a Jornada, depois da Jornada. Foi com a minha vida, com os meus medos, com a minha ansiedade, com os meus temas por resolver, que um dia me cai a ficha e vem este mantra do padre português.

Henrique – Falando de Lisboa, quais é que são as expectativas para esta Jornada, e o que é que achas que vai ser diferente da de 2016, em Cracóvia?

Inês – A Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, tem de ser um ponto de viragem, por vários motivos. Esta Jornada já foi adiada por causa da pandemia, em que tivemos toda a população mundial a viver o drama que foi a COVID-19, o que torna este encontro, o apogeu de termos vencido uma pandemia, e essa vitória tem de ser abraçada, tem de ser festejada e tem de ser, sobretudo, agradecida. Esta Jornada Mundial da Juventude tem de ser, também, este ponto de viragem, no sentido em que temos um mundo em constante mudança, um mundo que enfrenta muitos desafios. Por isso, a Igreja tem de ver aqui, uma oportunidade, com esta ideia de que se superámos isto, superamos tudo, porque não estamos sozinhos.

Por outro lado, do ponto de vista local, é indiscutível que a Igreja portuguesa, nos últimos tempos, tem tido muitos desafios, muitas controvérsias, e tem sido alvo de muitas críticas. Dom Bosco dizia que se existe uma maçã podre no meio de muitas saudáveis, as que são saudáveis, podem ficar podres, e o que a Igreja não pode deixar que aconteça é dar razão a maçãs podres. Portanto, a ideia disto ser um ponto de viragem, é renascer das cinzas, com ética, com moral e com vontade de fazer mais e melhor, e, sobretudo, sem ter medo do passado. A melhor coisa que podemos fazer do passado, é aprender e seguir em frente, sempre firmes na fé, como o tema da JMJ de Madrid, em 2011.

Mariana – Por último, que mensagem gostarias de deixar aos jovens que se estão a preparar para participar na Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023?

Inês – Ao contrário de mim, que não tive uma grande preparação espiritual, acho que o preparar-se espiritualmente para um momento destes, é incrível e por isso, desde já, o meu maior abraço, a todos os que estão a viver este momento com grande intensidade.

Espero a Jornada seja algo que não deixe as pessoas indiferentes. Eu acho que a pior coisa que nós podemos sentir é a indiferença em relação àquilo que vivemos, às pessoas que conhecemos, àquilo que ouvimos. Então, espero que se esforcem por combater isso, que se esforcem por ser empáticos, por conhecer os outros e aprender mais.

Obviamente que a fé é vivida tendo em conta a nossa história pessoal, mas a fé, inevitavelmente, também é vivida do ponto de vista nacional. O povo português tem uma forma de ir à missa, mais solenemente, dependendo, também, de região para região, e isso é incrível. Espero que os portugueses abracem a forma de outras nações viverem a religião e que os estrangeiros façam o mesmo connosco, porque é esse intercâmbio espiritual que faz da Jornada, um momento incrível, único e absolutamente arrebatador.

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