Começam a chegar os primeiros elementos do elenco. O “Musical Dom Bosco” entrou na última semana de ensaios. Ensaios de cenas, ensaios corridos e ensaios de vozes. Desde fevereiro que os finais de tarde de sexta-feira e manhãs de sábado são dedicados ao espetáculo que vão apresentar no Auditório dos Oceanos do Casino de Lisboa, para centenas de pessoas. Desde meados de julho que ensaiam diariamente. Exigente.
O “Musical Dom Bosco” é uma adaptação do original italiano “Don Bosco, il musical”, com textos de Renato Baigioli e Piero Castellacci, e música de Alessandro Aliscioni e Achille Oliva, e vai ser apresentado pelos Salesianos de Lisboa no Festival da Juventude no decurso da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023. Terá quatro sessões, dia 1 de agosto, às 21h30; dia 2, às 19h00; e dias 3 e 4 às 21h00.
Clara Martinez, 21 anos, orienta o grupo no aquecimento e no vocalizo. Tem o curso secundário em canto do Conservatório, fez dança de competição durante vários anos, fez parte do coro infantil da Universidade de Lisboa, tem uma banda jazz, está a estudar Ciências da Comunicação, mas continua muito focada nas aulas de dança e de canto, e também dá aulas de canto. Quando abriram as audições para o musical, inscreveu-se.
Ana de Morais, ou Bibi, o nome familiar pelo qual é mais conhecida, toma notas. Ajustes à coreografia, adereços em palco, guarda-roupa, e vai dando indicações para a colocação de vozes. Professora de Dança e Teatro, é a responsável pela direção artística.
São cerca de 90 minutos para contar a história de São João Bosco, fundador da obra Salesiana, “Pai e Mestre da Juventude” e patrono da JMJ Lisboa 2023. A história de um sacerdote que dedicou a sua vida aos jovens órfãos e desfavorecidos, desde o sonho que teve em criança até à sua concretização na forma da Família Salesiana.
“Esta é a nossa homenagem”
“Quando se soube que a JMJ se iria realizar em Portugal, foi natural incluirmos este musical nas nossas propostas para o Festival da Juventude”, conta Luís Carlos Peleira, professor do Musicentro dos Salesianos de Lisboa. “Dom Bosco é um dos patronos da JMJ e esta é a nossa homenagem”.
Em palco estarão 31 atores. São alunos do Teatro Musical no Musicentro de Lisboa, antigos alunos e jovens que fizeram audição, com experiência em dança, canto e teatro. Participam também nestas apresentações 11 bailarinas da Escola de Dança Ana Mangericão. O elenco conta ainda com a participação especial da atriz Maria Curado Ribeiro, neta de Curado Ribeiro e filha de Rita Curado Ribeiro, ambos atores de teatro, cinema e televisão.
Paulo Peleira tem 19 anos, há dez anos que participa em todas as apresentações do Teatro Musical dos Salesianos de Lisboa. É filho de Ana de Morais e de Luís Carlos Peleira, e é antigo aluno. Frequenta as aulas de Dança e Teatro Musical, e as aulas de formação musical, harmonia e baixo elétrico do Musicentro. Paulo cresceu com o carisma salesiano à sua volta. Espera que o musical e a história de São João Bosco toquem os corações de toda a gente. “Vamos representar o fundador dos Salesianos, que deve ser mostrado a todo o mundo”, defende.
Carolina Berlim já tem bastante experiência nas atuações do Musicentro. Neste musical desempenha o papel de Margarida Occhiena, Mãe de Dom Bosco e figura maternal para os jovens acolhidos por ele no Oratório de Valdocco. Tem 26 anos, praticamente a idade que Mãe Margarida tinha quando ficou viúva. “Estar numa situação de pobreza, ter que cuidar de três crianças, uma sogra idosa e muito doente e gerir tudo com bondade, com alegria, com dureza mas com firmeza”. “Acho que nunca conseguiria”. Por isso, Carolina diz que é uma inspiração. “Mais tarde, escolheu ajudar Dom Bosco na sua obra. Quando podia deixar ser cuidada pelos outros, escolheu cuidar de centenas de crianças. O sofrimento não era estranho para ela, o cansaço não era estranho para ela, a pobreza não era estranha para ela. E ela sabia a importância de fazer aquilo que se deve fazer”, resume.
Uma mensagem de amor e esperança
João Baptista, 33 anos, vai interpretar o protagonista, São João Bosco. Foi aluno do Musicentro de Lisboa e já participou noutros musicais apresentados pela escola. João tem que gerir todo o tempo de forma rigorosa: o jovem médico divide estes dias entre a paternidade – foi pai há cerca de um ano –, o trabalho e os ensaios. “Mas é por gosto”, diz a sorrir.
“Eu já comentei isto nos ensaios – explica. Acho que devemos ver isto como uma missão importante. Vivemos tempos muito complicados, em que tudo o que nós vemos é muito cruel, muito difícil, e é difícil encontrar coisas que nos deem esperança”. Por isso, acredita que todos devem assistir a este musical. “As pessoas precisam de ver amor, precisam de amor”, sublinha.
Para ele, Dom Bosco foi “primeiro que tudo um homem de fé. Foi um homem de amor, um homem bondoso, muito teimoso, muito persistente. Foi uma dádiva de Deus”. João recorda a impressão da viagem que fez, há alguns anos, aos lugares de Dom Bosco em Turim. “Foi uma experiência inesquecível entrar naquele primeiro oratório”.
Clara acredita que o público vai sair do auditório “com material para pensar”. “Isto pode ser um musical, muito giro, muito animado, que entretém, mas a mensagem continua a ser atual: dá sempre para lutar pelo bem, e não é preciso muita coisa. Que todos se podem juntar para um bem maior”.
Para Carolina, a história “está contada de forma muito divertida também”. “Acho que este musical traduz o que é a juventude, a alegria, e a forma como queremos transmitir a nossa fé e a vida dos santos e dos patronos, algo que não é muito explorado nas Jornadas”, afirma.
Clara, Paulo e João vão participar pela primeira vez numa Jornada Mundial da Juventude. Clara espera poder participar em todos os eventos que a agenda de ensaios e atuações lhe permitir. Paulo quer participar, pelo menos, nas catequeses durante a manhã e nos eventos centrais do fim de semana.
Carolina participou na JMJ de Cracóvia, em 2016. “Mudou a minha vida, na verdade. Estava muito adormecida na minha fé, e foi uma coisa que me despertou”. Em Lisboa quer “viver” o Parque do Perdão e visitar a Feira das Vocações. “Espero poder aproveitar as manhãs e passear pela cidade de Lisboa e experienciar a Jornada como outra peregrina qualquer”.
“É muito maior do que nós”
Para Carolina, à medida que o dia 1 de agosto se aproxima, aumenta a ansiedade e o entusiasmo e nem as oito horas de trabalho e as duas horas de ensaio diário deixam esmorecer. “O corpo recusa-se a cansar”, explica. “Tudo isto acontece por causa dele. [Dom Bosco] nunca se cansava, nós também não nos vamos cansar”.
A dimensão e a importância do evento podem causar um nervosismo extra no jovem elenco.
“Agora nenhum, sinto muita responsabilidade. Sei que vou sentir. Faz parte”, conta João.
“Eu estou sempre nervoso, mesmo nos ensaios”, confessa Paulo. “É normal, quer dizer que o ator está preparado, pelo menos para mim, que dizer que vai correr bem”.
“Todos fizemos um bom trabalho e estamos entusiasmados por partilhar esta história”, afirma Carolina.
Luís Carlos acrescenta: “Serão jovens a assistir a um espetáculo apresentado por outros jovens. Penso que será um sucesso e muito gratificante para quem teve a oportunidade de o preparar”.
Clara conclui: “Não é todos os dias que se vê um grupo de jovens portugueses a fazer um espetáculo desta dimensão, com este nível de dedicação e de paixão, com esta mensagem. É muito maior do que nós, do que cada um destes pequenos artistas”.
“Vai correr bem”, garante Bibi. “Corre sempre bem. Dom Bosco ajuda sempre”.